A Cinelimite Inc., com sede em São Paulo, é uma organização sem fins lucrativos dedicada à exibição, distribuição e digitalização (IDFB) do cinema brasileiro de repertório.
Há inúmeras joias do cinema brasileiro que estão apenas esperando para serem descobertas pelo público internacional - nossa missão é tornar isso uma realidade. A Cinelimite oferece uma plataforma on-line gratuita para filmes brasileiros clássicos recentemente traduzidos, ao mesmo tempo em que fornece material suplementar estimulante, como ensaios escritos e em vídeo, entrevistas, listas e eventos especiais ao vivo.
Limite é o título de um filme brasileiro realizado em 1930 por Mário Peixoto, aos 22 anos de idade - seu único filme. Exibido pela primeira vez em 17 de maio de 1931 no Chaplin Club do Rio de Janeiro, o filme nunca chegou a receber um lançamento comercial. Ao longo dos anos, foram realizadas exibições particulares ocasionais de Limite, como uma organizada pelo poeta e crítico de cinema Vinicius de Moraes em julho de 1942 para Orson Welles, que estava no Rio de Janeiro para filmar seu documentário nunca finalizado É Tudo Verdade. Nos anos 50, Plínio Sussekind Rocha - um dos fundadores do Clube Chaplin e professor da Faculdade Nacional de Filosofia - frequentemente exibia a única cópia sobrevivente para seus alunos. Em 1953, uma dessas sessões contou com a presença de Saulo Pereira de Mello, que rapidamente desenvolveu uma paixão pelo filme. O crítico de cinema José Carlos Avellar descreveria Mello mais tarde como o único "espectador total" de Limite, "Ele cumpriu sua paixão como nenhum outro espectador jamais fez por qualquer outro filme". Em 1959, a impressão sobrevivente do filme estava em deterioração e não se encontrava em condições para ser exibido. Mello e Rocha se uniram para restaurá-lo, um processo difícil que levou 15 anos. Mello guardou a cópia - uma impressão de nitrato altamente inflamável - em sua casa. Ele fotografou-a quadro a quadro e escreveu extensivamente sobre Limite. Durante os anos em que o filme permaneceu inacessível, ele se tornou uma espécie de mito entre os cinéfilos brasileiros, alguns até duvidando que o filme sequer tivesse sido realizado. Em 1978, seis anos após a morte de Rocha, a restauração foi finalmente exibida. Desde então o filme foi apresentado inúmeras vezes e lançado em diversos formatos domésticos: Laserdisc, VHS, DVD, e, mais recentemente, em Blu-Ray pela Criterion Collection. Ele ficou em primeiro lugar na votação de 2015 realizada pela Associação Brasileira de Críticos de Cinema (ABRACCINE) dos melhores filmes brasileiros já feitos.
A maioria dos filmes brasileiros não têm tanta sorte. Muitos apodrecem no esquecimento ou só sobrevivem em cópias mal conservadas e incompletas. Mas isto não é por falta de pessoas que se preocupem com eles. Elas existem, muitas trabalham incansavelmente para preservar e restaurar esses filmes e para manter o cinema brasileiro vivo. Para que seus esforços sejam reconhecidos, estes filmes precisam ser vistos, e é com este objetivo em mente que nossa organização Cinelimite foi concebida. Permitir que estes filmes que constituem a história cinematográfica brasileira permaneçam praticamente despercebidos por um público transnacional seria o mesmo que concordar com a erosão da memória cultural brasileira. Reconhecemos que para que o cinema nacional receba sua merecida admiração no cenário internacional, ele necessita de agitadores e defensores apaixonados. Permitir a estas vozes um espaço para reunir e trocar idéias com e contra aqueles que controlam as desequilibradas balanças do discurso cinematográfico dominante pode significar a diferença entre um patrimônio nacional composto de lendas perdidas e um firmemente construído por obras de arte atemporais amplamente reconhecidas.
Em memória de Saulo Pereira de Mello - o espectador total - que faleceu da COVID-19 em 30 de abril de 2020, assumimos a tarefa de divulgar o cinema brasileiro para novos e atentos espectadores.